Morre Nana Caymmi, uma das vozes mais importantes do Brasil, aos 84 anos
A cantora faleceu em decorrência de complicações cardíacas; a morte foi confirmada no início da noite desta quinta-feira (1º) por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi
Por da Redação 01/05/2025 19h23 - Atualizado em 01/05/2025 19h49
Fabio Motta/Estadão Conteúdo

Nana Caymmi estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro
A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira (1º), aos 84 anos, em decorrência de complicações cardíacas. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte foi confirmada no início da noite por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi. Em 2024, Nana enfrentou sérios problemas cardíacos, que levaram à implantação de um marcapasso para tratar uma arritmia. Anos antes, em 2015, ela também lutou contra um câncer de estômago.
Filha do renomado compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro com o nome Dinahir Tostes Caymmi, em homenagem a uma tia paterna. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda na infância. Sua primeira gravação foi em 1960, ao lado do pai, com a canção de ninar “Acalanto”, feita especialmente para ela. No mesmo ano, lançou um compacto com as músicas “Adeus” e “Nossos Beijos”. Apesar do início promissor na música, Nana decidiu deixar o Brasil para se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve três filhos: Stella, Denise e João Gilberto.
Ao longo da carreira, Nana Caymmi eternizou clássicos com sua voz inconfundível, interpretando composições de grandes nomes da música brasileira como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento e Roberto Carlos, sempre imprimindo uma identidade artística singular a cada canção.
Seu repertório também trouxe releituras marcantes de obras do pai, Dorival Caymmi, como “O Que É Que a Baiana Tem” e “Saudade da Bahia”. A presença de Nana também foi marcante nas trilhas sonoras de novelas e minisséries da TV Globo, além de participações especiais como atriz.
Mais sobre a trajetória artística da cantora
Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.
Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.
Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.
Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.
Sucesso popular
O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.
Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música “mais animada”. Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. “Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão”, reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.
Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família. Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.
Últimos trabalhos
Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Nana já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo.
A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023 O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.
A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme. Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.
*Reportagem produzida com auxílio de IA e Estadão Conteúdo
Publicado por Carol Santos